“A EMPRESA ELÉCTRICA DO FUTURO”
REFLEXOS NA ESTRATÉGIA, NO MODELO DE NEGÓCIO E NA REGULAÇÃO
O funcionamento do sector eléctrico baseou-se, no pós-guerra, num modelo estável, dominado, em regra, por empresas integradas de grande dimensão. Nos anos 90 a União Europeia procedeu a uma alteração significativa que levou à separação das quatro actividades - produção, transporte, distribuição e comercialização – suscitando a concorrência na produção (mais tarde na comercialização), maior eficiência nos investimentos e, inicialmente, alguma baixa de preços. Em contrapartida, foi acompanhada de volatilidade nos preços, sentida negativamente pelos consumidores.
Actualmente, o sector eléctrico encontra-se numa encruzilhada crucial que pode conduzir a mudanças profundas. O desastre de Fukushima, a prolongada crise económica na Europa e a “explosão” do gás de xisto nos EUA deixaram marcas no sector eléctrico europeu. Esses e outros acontecimentos, bem como alterações recentes dentro do próprio sector, trouxeram novos desafios e criaram um horizonte incerto para as principais empresas eléctricas europeias.
A partir de 2008, reduziram-se as receitas das empresas e o seu valor de mercado. Para isso contribuiu a expansão da produção renovável, a estagnação dos consumos (crise económica) e, mais recentemente, a produção distribuída e o estímulo à eficiência energética. Quase todas as grandes empresas europeias têm hoje centrais convencionais, algumas recentes, praticamente paradas. Surgem ainda outros desafios, resultantes ou de inovações tecnológicas (armazenamento de energia, veículos eléctricos, crescente volume de dados a recolher, armazenar e manipular), ou de uma atitude mais activa e exigente dos consumidores, ou do aumento do número de consumidores/produtores. Empresas de outros sectores – novas tecnologias, telecomunicações, etc. – pretendem participar no mercado eléctrico e conquistar parte das receitas do sector.
O objectivo de descarbonizar as fontes de energia vai manter ou acentuar a expansão da produção a partir de fontes renováveis. A produção distribuída, com redução de preços e maior eficiência das tecnologias utilizadas, e os progressos potenciais no armazenamento de energia, vão igualmente expandir-se. Ao mesmo tempo, as alterações nos padrões de utilização de energia eléctrica – resultantes dos incentivos à eficiência energética e ao progresso nos veículos eléctricos e sua consequente disseminação – alteram os diagramas de consumo e modificam o conceito de “consumidor de energia eléctrica”. Finalmente, as tecnologias de comunicação, associadas ao desenvolvimento das “redes inteligentes”, com o acesso, recolha e tratamento de enormes volumes de dados, irão permitir uma visibilidade e controle sem precedentes sobre o sistema eléctrico.
O que significam todas estas alterações para o futuro do sector? Será que em menos de três décadas estaremos perante sistemas eléctricos “distribuídos” – com produção distribuída, controle de consumos (“demand response”), armazenamento de energia, veículos eléctricos - geridos e controlados por tecnologias de comunicação avançadas? Que novos modelos de negócio e regulatórios se devem entretanto desenvolver? Como e em que sentido se transformará o sector? Que novas estratégias podem (devem) adoptar as empresas eléctricas no sentido de capitalizar as oportunidades, actuais e futuras, decorrentes de novas tecnologias e de novos serviços?
É importante analisar os problemas anteriores. Por isso a ELECPOR consagra a Conferência deste ano, a que chamou “A Empresa Eléctrica do Futuro”, ao debate dessas questões e dos cenários possíveis, visando, através de uma participação diversificada, transmitir uma perspectiva nacional e internacional, com exemplos da situação e da abordagem em empresas de vários países, seus sucessos e dificuldades.
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